“Mulieres” – retratos sonoros e poéticos do feminino no despontar da Idade Moderna
Recitação de textos originais de Pedro Braga Falcão intercalada com obras do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Estreia de uma obra original, encomendada a João Madureira.
ELEMENTOS
Eunice Aguiar | Soprano
Raquel Mendes | Soprano
Patrícia Silveira | Mezzo soprano
Carlos Meireles | Tenor
Sérgio Ramos | Barítono
Hugo Sanches | Alaúde, teorba e direção artística
Maria Bayley | Harpa, cravo
Francisco Luengo | Viola da gamba
Carmina Repas | Viola da gamba
Sofia Diniz | Viola da gamba
Xurxo Varela | Viola da gamba
Romi Soares | Narração/declamadora
Pedro Braga Falcão | Texto/escritor
João Madureira | Compositor
PROGRAMA
I. Amores…
1. Cancioneiro do Palácio (Séc. XVI) – Que me queréis caballero
2. Orlando di Lasso (1532-1594) – Susanne un jour
3. Cancioneiro de Elvas (Séc. XVI) – Mirad que negro Amor
4. Luigi Rossi (1597-1653) – Mio ben
5. Claudio Monteverdi (1567-1643) – Lamento d’Arianna
II. Mãe
6. Pedro Escobar (c. 1465-c. 1535) – Clamabat autem
7. Luys Milan (c. 1500-após 1561) – Triste estava muy quexosa
8. Santa Cruz de Coimbra (c. 1650) – Dexad al niño que llore
III. … vita brevis
9. Giacomo Carissimi (1605-1674) – Lamento de Maria Stuarda
10. Santa Cruz de Coimbra (c. 1650) – Salió flora a coger flores
11. Manuel Cardoso (1566-1650) – Aquam quam ego dabo
IV. Epílogo
12. João Madureira (n. 1971) – Três ocasos para Susana
Poema de Pedro Braga Falcão (n. 1981)
NOTAS DE PROGRAMA
O presente programa consiste numa seleção de obras dos séculos XVI e XVII provenientes de Portugal, Espanha, França e Itália que têm mulheres como personagens principais. Cada peça conta uma história diferente na qual as protagonistas assumem diferentes papéis – mãe, rainha, amante, asceta, jovem, idosa – deparando-se com diferentes tipos de adversidade – desamor, abandono, violência, morte, assédio, tentação. Sob estas diferentes roupagens poético-dramáticas, a música alia-se à palavra na expressão de um largo espectro de estados emocionais, matizes psicológicos, posturas morais, e reflexões de natureza diversa: incredulidade perante a destruição, ternura diante da violência, sabedoria face à rudeza, inconformismo perante a enfermidade, dignidade perante a iminência da morte, resiliência contra a segregação, amor-próprio em resposta à rejeição, aceitação da brevidade da vida.
Temas basilares e perenes da vivência emocional, ética e moral da humanidade que encontram na mulher uma eloquentíssima porta-voz.
O Bando de Surunyo apresenta-se para este programa com uma formação de 5 cantores, consort de 4 violas da gamba, harpa e alaúde. Entre cada peça, a atriz Romi Soares dará voz a textos originais de Pedro Braga Falcão que gravitarão em torno dos ambientes poéticos e narrativos da música. O concerto encerra com uma obra expressamente encomendada ao consagrado compositor João Madureira, “Três ocasos para Susana”, com poesia original do mesmo Pedro Braga Falcão sobre a canção “Susanne um jour” de Orlando di Lasso.
DADOS BIOGRÁFICOS
O Bando de Surunyo é um ensemble especializado na interpretação de música dos séculos XVI e XVII. O nome é retirado de um vilancico seiscentista português e significa “bando de estorninhos”. O ensemble é a frente interpretativa e laboratorial de um projeto multidisciplinar que incide particularmente sobre repertório inédito albergado por fontes portuguesas, apresentando em quase todos os seus concertos obras inéditas em primeira audição moderna. O projeto abrange, porém, música tanto de aquém como de além-fronteiras, tendo como objetivo proporcionar ao público, através da música e da poesia, o contacto com a pluralidade, ecletismo e riqueza do pensamento e imaginário do renascimento e barroco europeus.
Os nossos concertos são preparados sobre uma rigorosa base de investigação musicológica e no estudo aprofundado do contexto histórico e cultural da música que interpretamos. Todas as obras são preparadas diretamente a partir dos manuscritos ou impressos originais e interpretadas utilizando instrumentos e práticas interpretativas historicamente informadas.
A íntima relação entre som e palavra que emerge na música na transição do Quinhentos para o Seiscentos é o eixo central da abordagem d’O Bando de Surunyo ao estudo e interpretação do repertório. O som colocava-se então ao serviço do texto, veiculando, ilustrando e potenciado o seu conteúdo poético e afetivo. A transmissão eficaz e eloquente desse conteúdo nas suas múltiplas leituras e funções — literal, teatral, histórica, simbólica, religiosa, política e filosófica — constitui a base para a construção de uma conceção interpretativa que persegue hoje o mesmo objetivo da música de então: divertir e comover o público através da palavra, do gesto e do som. Todo o projeto assume pois um alcance estético e comunicativo alargado onde, fazendo uso de práticas interpretativas e sonoridades históricas, se procura criar um objeto artístico pertinente, significativo e impactante para o público de hoje.
O Bando de Surunyo tem realizado concertos de norte a sul de Portugal e no estrangeiro, destacando-se os seguintes: IV, V, VI, VII, VIII e IX Jornadas Musicológicas Mundos e Fundos (Coimbra, 2015-2020); II Festival Internacional de Dança Portingaloise (V. N. Gaia, 07/2016); V Festival de Música Antiga Sons Antigos a Sul (Lagos, 08/2016); 3º Festival Internacional de Guitarra de Lagoa (Lagoa, 09/2016); Ciclos Musicórdia MMXVI e MMXVIII (Esposende, 2016 e 2018); Ciclo Cultura Viva – Fundação Manuel António da Mota (Porto, 12/2016); IX Festival dos Descobrimentos (Lagos, 05/2017); Festival Internacional Gaia todo um mundo (V. N. Gaia 06/2017); Festival CA Noroeste (Ponte da Barca 03/2018); Música em SI Maior (ciclo de música barroca) – temporadas 2018 e 2019 (Loures); Dia Especial de Natal Euroradio / Antena 2 com transmissão radiofónica mundial (Lisboa, 12/2018); 1º Ciclo de Música Barroca (Cambados, Espanha, 08/2019); 8º Festival Internacional de Música Antiga Abvlensis (Ávila, Espanha, 08/2019); Encontros Internacionais de Música Antiga de Loulé Francisco Rosado (Loulé, Portugal, 10/2019); Festivais de Outono (Aveiro e Águeda, 11/2019); 9º Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas (Idanha-a-Nova, 09/2020); 32ª Temporada de Música em S. Roque (10/2020, Lisboa); Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu (04/2021).
O Bando de Surunyo é dirigido por Hugo Sanches, doutorado com distinção e louvor em Estudos Musicais pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, mestre e licenciado em Interpretação Musical (música antiga – alaúde) pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE, Porto), e pós-graduado em psicologia da música pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Reparte a sua atividade entre a interpretação, o ensino e a investigação, especializando-se em música dos séculos XVI e XVII nos domínios tanto da prática interpretativa, como da teoria e pensamento estético e filosófico. É presentemente coordenador do Curso de Música Antiga da ESMAE e professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É ainda investigador do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde se dedica sobretudo ao estudo, edição e interpretação do repertorio musical ibérico inédito do século XVII.