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LUDOVICE ENSEMBLE

4 NOVEMBRO
21h / IGREJA DE SÃO ROQUE

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Presépios cantados: o Natal na Capela Real e Patriarcal de Lisboa

«Messa Pastorale» de Giovanni Giorgi: cantar o mistério do Natal com o virtuosismo dos anjos e a ingenuidade dos pastores.

FOLHA DE SALA | PDF 2MB

ELEMENTOS

Fernando Miguel Jalôto | Órgão e Direção

SOLOS
Eduarda Melo
|Tiple
Gabriel Día | Alto
Fernando Guimarães | Tenor
Hugo Oliveira |Baixo
Fernando Santiago García | Violoncelo

REPLENOS
Teresa Duarte
| Tiple
António Lourenço Menezes | Alto
João Rodrigues | Tenor
Filipe Nunes Leal | Baixo
Marta Vicente | Contrabaixo

PROGRAMA

Mottetto 24 a 4 Concertatto «Hodie scietis quia veniet dominus» per la Vigilia del SS.mo Nattalle – 1756
Giovanni Giorgi (ca.1700 – 1762)

Sonata avanti la messa: Sonata Ap.1-4 — Allegro
José António Carlos de Seixas (1704-1742)

Introitus «Dominus dixit ad me»
Cantochão do Theatro Ecclesiástico — 1765

Kyrie eleyson da «Messa Pastorale à 4 Concertata del Sign. D. Gio. Giorgi» — 1755
Kyrie: Andante ma sostenuto — Tutti
Christi: Allegro ma sostenuto — Soli a 3 «sopra la Tedesca»
Kyrie: Allegro —Tutti «sopra la Romagnola»

Gloria in excelsis da «Messa Pastorale à 4 Concertata del Sign. D. Gio. Giorgi» — 1755
Et in terra pax: Andante Allegro — Soli a 4 & Tutti «sopra la Piva»
Gracias agimus tibi: Fuga, Allegro sostenuto — Tutti «sopra la Sarabanda»
Domine Deus: Grave affetuoso — Soli a 2 «sopra la Siciliana»
Qui tollis peccata mundi: Grave — Tutti
Suscipe deprecationem: Allegro — Tutti
Qui sedes ad dextra patris: Allegro — Soli a 2
Quoniam tu solus sanctus: Allegro — Soli a 3
Cum sancto spiritu: Allegro Fugato — Tutti «sopra la Piva Rustica»

Gradual «Tecum principium in die virtutis tuae» & Alleluia «Dominus dixit ad me»
Cantochão do Theatro Ecclesiástico — 1765

Sonata dopo l’Epistola: Sonata K.9 — Allegro
Domenico Scarlatti (1685-1757) — Essercizi per Gravicembalo, Londres, 1738/39

Credo in unum dei da «Messa Pastorale à 4 Concertata del Sign. D. Gio. Giorgi» — 1755
Patrem omnipotentem: Allegro — Tutti & Soli a 2 «sopra la Folia ovvero Ciaccona»
Et incarnatus est: Andante sostenuto — Tutti
Crucifixus: Grave affetuoso — Soli a 3
Et ressurexit: Allegro — Tutti «sopra la Ciaccona, alio modo»
Et vitam venturi: Fuga, Presto — Tutti «sopra il Minuetto»

—– intervalo —–

Offertorium «Laetentur Coeli, et exulte terra»
Cantochão do Theatro Ecclesiástico — 1765

Mottetto 25 a 4 Concertatto «Quem vidistis pastores» per la Prima Messa del SS.mo Nattalle — 1756
Giovanni Giorgi (ca.1700 – 1762)

Sanctus da «Messa Pastorale à 4 Concertata del Sign. D. Gio. Giorgi» — 1755
Sanctus: Allegro sostenuto — Tutti
Pleni sunt caeli: Grave — Tutti
Hossana in excelsis: Allegro e Presto — Tutti
Benedictus: Grave affetuoso — Soli a 2

Sonata per la Levatione: Sonata 2-7 — [Andante] José António Carlos de Seixas

Hossana in excelsis: Allegro e Presto — Tutti

Agnus Dei da «Messa Pastorale à 4 Concertata del Sign. D. Gio. Giorgi» — 1755
Agnus Dei: Andante sostenuto — Tutti

Communio «In splendoribus Sanctorum» & «Ite missa est»
Cantochão do Theatro Ecclesiástico — 1765

Mottetto 26 a 4 Concertatto «Hodie nobis de caello» per la Seconda Messa del SS.mo Nattalle — 1756 Giovanni Giorgi

NOTAS DE PROGRAMA

Domenico Scarlatti permanece como o mais famoso dos compositores italianos que trabalharam para a corte de Lisboa no séc. XVIII, mas muitos outros músicos transalpinos viveram em Portugal durante essa época, acabando por exercer uma ação bem mais profunda e duradoura na vida musical, e cuja repercussão está ainda por avaliar devidamente por falta de edições modernas das partituras, interpretações e estudos históricos e analíticos. Entre eles destaca-se a figura de Giovanni Giorgi (ca.1700 – 1762) compositor activo em Lisboa ao longo de quase três décadas, e que deixou uma forte marca nas gerações seguintes através da sua acção pedagógica, bem como um legado musical de imponentes dimensões que se encontra repartido por várias bibliotecas e arquivos, nacionais e estrangeiros.

O veneziano Giorgi foi contratado por D. João V em 1725 na qualidade de «Compositor da Patriarcal» devido à sua ampla experiência no campo da música sacra romana, obtida na qualidade de mestre de capela da Basílica de São João de Laterão, vindo assim solidificar a aposta do rei no cerimonial sacro como expressão simbólica do poder absoluto. A contratação de Giorgi por D. João V não foi um acto isolado, mas fez parte de uma estratégia mais ampla relacionada com o colossal investimento na instituição do Patriarcado de Lisboa e com um modelo ideológico, típico do Antigo Regime, que previa a união simbólica entre o poder civil e o poder eclesiástico. Mediante um hábil processo de negociações junto da Cúria Romana, a Capela Real foi promovida a Igreja e Basílica Patriarcal em 1716. D. João V uniu assim numa lógica de «obra de arte total» a pompa litúrgica e o cerimonial áulico, as artes plásticas e a dimensão coreográfica e teatral do ritual sacro, o poder retórico da palavra e da música. As obras que se apresentam no concerto de hoje, transcritas a partir de materiais musicais do Arquivo da Sé Patriarcal de Lisboa são apenas exemplos breves de uma produção muito mais ampla e multifacetada.

A «Messa Pastorale», composta em 1755 ainda antes do fatídico terramoto, e quando o compositor se encontrava já jubilado e a viver em Génova — continuando contudo a compor intensivamente para a corte portuguesa até à sua morte —  recorre a vários tópicos musicais herdados de diferentes tradições europeias da Pastoral natalícia, que percorrem toda a obra. Recorre-se explicitamente às fórmulas rítmicas das danças barrocas (indicadas nos títulos das diferentes secções), com particular predominância dos tempos compostos e dos ritmos pontuados da Siciliana, bem como à recriação de um imaginário sonoro de carácter rústico, nomeadamente através da evocação dos bordões das gaitas de foles («Piva»). Elementos pastorais surgem também nos motetos, ainda que de forma mais discreta, estabelecendo-se assim a ligação com as representações plásticas da Natividade e restantes festividades da quadra, típicas do Sul da Europa. Em Portugal assumem particular destaque os esplêndidos presépios de barro setecentistas que abundam em todo o país, distinguindo-se sobretudo os da autoria de Dionísio e António Ferreira, Silvestre Faria Lobo, Joaquim Machado de Castro e Joaquim José de Barros Laborão, todos eles próximos contemporâneos de Giovanni Giorgi. Neles abundam as representações e alusões à música, seja popular — tocadores de gaita de foles, sanfona, flautas, pífaros, pandeiros e castanholas bem como diversos bailadores — seja erudita, confiada esta aos anjos cantores empunhando partituras, e frequentemente acompanhados por um grupo de baixo contínuo constituído por órgão, rabecão, (arqui)alaúde e harpa, e dois violinos — reflectindo muito provavelmente as práticas musicais difundidas nas igrejas da capital durante esta época festiva.

Giovanni Giorgi é uma das mais recentes e importantes descobertas da musicologia internacional. Mestre da Capela de São João de Laterão e, mais tarde, da Capela Real e Patriarcal Portuguesa, Giorgi deixou-nos uma quantidade impressionante de obras vocais sacras escritas para todas as festas e celebrações possíveis do calendário católico romano, destacando-se a sua colecção completa compreendendo mais de cem motetos para todas as celebrações litúrgicas anuais e inseridos na Capela Real portuguesa, sempre a seguir ao Ofertório e antes do Prefácio.

Se nas suas primeiras obras compostas em Roma predominam o rigoroso estilo imitativo e a policoralidade, então indissociáveis do estilo romano, a chegada à cosmopolita e rica corte portuguesa obrigou-o a adotar um estilo muito mais moderno, recorrendo a técnicas muito mais diversas e atualizadas, e pródigo em escrita concertante, com solos vocais caprichosos, ecoando o virtuosismo dos castratti contratados para Lisboa – e frequentemente associados na época, pela transcendência das suas vozes e sua suposta assexualidade, a seres angelicais. As composições de Giorgi para o Natal hoje escutadas combinam essas modernos e doutas sonoridades com uma reflexão muito simples, quase ingénua, sobre o profundo e indizível mistério do Natal.

 

Cristina Fernandes (2011) & Fernando Miguel Jalôto (2022)

DADOS BIOGRÁFICOS

O Ludovice Ensemble é um grupo especializado na interpretação de Música Antiga, sediado em Lisboa, e criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, com o objetivo de divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas e usando instrumentos antigos. O nome do grupo homenageia o arquiteto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig (1673-1752) conhecido em Portugal como Ludovice. O grupo trabalha regularmente com os melhores intérpretes portugueses especializados, e também como prestigiados artistas estrangeiros. O Ludovice Ensemble apresentou-se em Portugal nos principais festivais nacionais e é uma presença regular nas duas principais salas de Lisboa: o CCB e a Fundação Calouste Gulbenkian. Apresentou-se no estrangeiro nos mais prestigiantes festivais de música antiga, na Bélgica (Bruges, Antuérpia); Países Baixos (Utrecht); França (La Chaise-Dieu, Bordéus); República Checa (Praga); Israel (Telavive, Jerusalém); Irlanda (Dublin); Estónia (Tallinn); e Espanha (Aranjuez, El Escorial, Vitoria-Gasteiz, Lugo, Badajoz, Jaca, Daroca, Peñíscola, e Pirenéus catalães). Gravou ao vivo para a RDP-Antena 2, a Rádio Nacional Checa e a Rádio Nacional da Estónia, bem como para o canal de televisão francês Mezzo. O seu primeiro CD, para a editora Franco-Belga Ramée/Outhere foi nomeado em 2013 para os prestigiados prémios ICMA na categoria de Barroco Vocal. Do seu trabalho mais recente destacam-se Le Bourgeois Gentilhomme de Moliére/Lully, Vésperas de Nossa Senhora de 1610 de Monteverdi, Cain ovvero il primo omicidio de Scarlatti, Timão de Atenas de Shakespeare e Purcell; Idylle sur la paix de Lully e Les Arts Florissants de Charpentier, bem como um original programa de música barroca judia-sefardita. Em 2020 lançou um álbum duplo do Ludovice Ensemble com sonatas inéditas de C. H. Graun para flauta e cravo obrigado, pela editora inglesa Veterum Musica.

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LUDOVICE ENSEMBLE na 34ªTMSR
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