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Coro ECCE
Cantata para Dona Leonor *
de Carlos Caires
No Teu Nome *
de Sara Ross
A Temporada Música em São Roque pretende honrar o legado de D. Leonor e a missão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com este programa evocativo dos 500 anos da sua morte e com a encomenda de duas obras inéditas contemporâneas — Cantata para Dona Leonor, de Carlos Caires, e No Teu Nome, de Sara Ross.
* Estreia absoluta
Cantata para Dona Leonor, Carlos Caires
Requiem Aeternam, Ildebrando Pizzetti
Regina Coeli, Rodrigues Esteves
Crucifixus, Antonio Lotti
Agnus Dei, Ildebrando Pizzetti
No Teu Nome, Sara Ross
No que diz respeito a música sacra, o meu imaginário está ligado às grandes obras da polifonia renascentista, por um lado, e, dando um salto temporal para o séc. XX, a Messiaen, Stravinsky e Ligeti, por outro. São estas algumas das referências sonoras que tento trazer para esta peça à qual dei o título de “Cantata para Dona Leonor”, para Coro, corne inglês, harpa, percussão e quarteto de cordas.
Foi-me pedido, nesta encomenda, para assinalar os 500 anos da morte de Dona Leonor e celebrar, do seu vasto legado, a criação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Depois de refletir sobre várias possibilidades no que dizia respeito à escolha do(s) texto(s) a usar na peça, acabei por decidir usar uma passagem do Evangelho Segundo São Mateus (Mateus 25:34-40).
Esta passagem descreve o Juízo Final, onde o Rei (Jesus) louva os que agiram com bondade para com os mais frágeis (o próximo necessitado) ao lhes dar de comer, beber, acolher, vestir, cuidar dos enfermos e visitar os presos, declarando que tais ações Lhe são feitas a Ele mesmo. Com estas palavras é estabelecida a base teológica das obras de misericórdia (ações e práticas corporais e espirituais que o Cristianismo, em geral, espera que todos os cristãos executem) que estão na base da missão da SCML.
Embora tenha usado uma versão em latim, deixo aqui uma versão em português, retirada d”Os quatro evangelhos” (tradução de Frederico Lourenço):
Então dirá o rei àqueles que estão à sua direita:
-Vinde, benditos do meu Pai, e herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Eu tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; eu era estrangeiro e acolhestes-me, estava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me, estava na prisão e viestes até mim. Então lhe responderão os justos, dizendo: "Senhor, quando te vimos esfomeado e te alimentámos, ou quando sedento e te demos de beber? Quando te vimos estrangeiro e te acolhemos, ou quando nu e te vestimos? Quando te vimos doente ou na prisão e fomos ter contigo?" E o rei, respondendo, dir-lhes-á: "Amém vos digo: quanto fizestes a um destes mais insignificantes dos meus irmãos, a mim o fizestes."
In Frederico Lourenço, Os quatro Evangelhos, Quetzal 2024, p. 149
Carlos Caires
NO TEU NOME
Senhor, desce.
Quando te vimos com fome?
Quando te vimos com sede?
Quando te vimos estrangeiro?
Quando te vimos nu?
Quando te vimos enfermo ou na prisão?
E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas.*
A intensidade com que se abrem os arquivos das ‘crianças expostas’ da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa — crianças que eram deixadas ao cuidado desta instituição — é dupla: por um lado, a entrega de um filho ou filha e implicitamente a dor, o amor e a fé que acompanhava esse gesto; por outro, a compaixão registada com rigor em milhares de volumes que documentam esses processos e ação da Misericórdia.
No teu nome constela essa intensidade através de um contraponto entre as múltiplas vozes - individuais, narrativa e divina -, a partir de fragmentos escolhidos do Antigo e do Novo Testamento e que são repetidos e transformados ao longo da peça. Entre provações de fé, súplica, esperança e afirmação sagrada, o texto bíblico é navegado por essas vozes numa paisagem emocional em constante metamorfose.
*fragmentos utilizados em No teu nome
Paulo Lourenço | Direção Musical
Carlos Caires | Composição
Sara Ross | Composição
Paulo Lourenço
Doutorado em Direção Coral pela University of Cincinnati College Conservatory of Music, exerceu nesta universidade funções de Teacher Assistant em Introduction to Conducting e de Assistant Conductor no University of Cincinnati Chamber Choir. Refundou e dirigiu (1990-95) o Coro da Juventude Musical Portuguesa. Em 1995, funda a Ricercare - Associação Musical em parceria com os maestros Vasco Azevedo, António Lourenço e Carlos Caires. Com o coro Ricercare foi galardoado com o 1.º Prémio no Concurso International de Villancicos de Navidad de Madrid 1999.É membro fundador do quarteto masculino TETVOCAL com o qual gravou sete CDs. Foi Maestro Assistente do Coro Gulbenkian entre 2013 e 2018.
Carlos Caires
Professor na Escola Superior de Música de Lisboa, tem uma carreira marcada pela experimentação sonora e pela incorporação de tecnologias digitais na composição. A sua obra, apresentada em festivais internacionais e distinguida com diversos prémios, reflete uma constante procura de novas linguagens, em diálogo com a tradição musical europeia.
Sara Ross
Compositora e investigadora portuguesa, desenvolve trabalho inovador em torno da relação entre voz, corpo e espaço. A sua produção abrange ópera, música coral e repertório instrumental, com especial atenção às dimensões performativas e interdisciplinares da criação artística. As suas obras são apresentadas regularmente em Portugal e no estrangeiro, afirmando-a como uma das vozes mais singulares da música portuguesa contemporânea.
Coro ECCE
O Coro ECCE é um projeto coral formado por talentosos cantores que se reúnem sob a tutela do maestro Paulo Vassalo Lourenço. Todos os seus membros são ou foram seus alunos ou então cantores com o quais o maestro estabeleceu profundos laços de cumplicidade musical ao longo dos anos. É objetivo do CORO ECCE tornar-se uma referência da música coral portuguesa e, por consequência, um embaixador da nossa cultura no estrangeiro.
O CORO ECCE dedica uma parte substancial do seu repertório à música contemporânea portuguesa apresentando novas tendências e compositores a novos públicos. O CORO ECCE propõe um novo conceito de concerto e abordagem de repertório que muitas vezes pode incluir música de diferentes estilos e épocas com acompanhamentos instrumentais menos comuns.
As suas atividades artísticas têm uma estreita relação com as escolas e universidades de música, ligando assim a sua música às novas gerações.
O grupo estreou-se em 2012 numa produção de Orfeu&Eurídice de Gluck com a Companhia Nacional de Bailado e a Orquestra Divino Sospiro com coreografia de Olga Roriz. Mais tarde recebeu importante reconhecimentos do público nomeadamente com o seu programa “Poesia Ibérica” apresentando a obra “Cancionero Gitano” de Tedesco com o guitarrista Dejan Ivanovic. No Festival de Música dos Capuchos.
Em 2017 realizou uma tournée na China representado Portugal em dois Festivais (Kaili e Hohhot) tendo apresentado um programa inteiramente em língua portuguesa. Com esta digressão o CORO ECCE obteve o título oficial de IFCM Ambassador (Embaixador da Federação Mundial de Música Coral).
Em 2019 estreou a obra “Linhagem” de Eurico Carrapatoso em parceria com o Coro do Festival de Verão e a Orquestra Filarmonia das Beiras, projeto este feito através do mecenato de Associação Égide liderada por Ana Proença.
Em 2022 apresentou com imediato sucesso a obra “Sefarad” em parceria com o pianista e compositor Filipe Raposo que nos propõe uma viagem à cultura e ao universo musical dos judeus ibéricos “Sefarditas” e da sua cultura que tragicamente ausente durante quase 500 anos. Este projeto foi estreado no Festival Císter Música e teve subsequentes apresentações no CCB e no Festival de Música do Algarve.
