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Cupertinos

Rosa sine spinis - A devoção mariana na Idade de Ouro da polifonia portuguesa
Dedicado à devoção mariana na polifonia dos séculos XVI e XVII, evoca o legado espiritual da rainha D. Leonor, cuja profunda religiosidade e apoio às artes lançaram raízes na tradição musical portuguesa.
Asperges me, a 5 Francisco Garro (1556 - 1623)
Sancta Maria, a 4 Francisco Guerrero (1528 - 1599)
Missa Sancta Maria, a 4 Duarte Lobo (1565 - 1646)
Kyrie
Gloria
Regina cæli, a 4 Pedro de Cristo (1545 - 1618)
Missa Sancta Maria Duarte Lobo
Credo
Sancta Maria succurre, a 6 Estêvão de Brito (1575 - 1641)
Missa Sancta Maria Duarte Lobo
Sanctus
Agnus Dei
Ave Maris Stella, a 4 Estêvão Lopes Morago (1575 - 1630)
Alma Redemptoris Mater, a 8 Duarte Lobo
Ave Maria, a 8 Pedro de Cristo
Na tradição musical portuguesa do Renascimento, a Virgem Maria ocupa um lugar central. Catedrais e mosteiros eram polos de intensa devoção mariana, o que se reflete na abundância de motetes, antífonas e missas dedicadas à Mãe de Deus. Os compositores da “geração de ouro” da polifonia — Duarte Lobo, Manuel Cardoso, Filipe de Magalhães ou Estêvão Lopes Morago, exploraram esse repertório com diversidade estilística, alternando solenidade litúrgica e intensa expressividade espiritual. Este corpus testemunha a importância da liturgia mariana no quotidiano religioso dos séculos XVI e XVII e revela o apuro técnico e a profundidade estética dos mestres portugueses.
Rosa sine spinis centra-se neste repertório, reunindo obras dedicadas à Virgem. Em destaque está a Missa Sancta Maria de Duarte Lobo, baseada no motete homónimo do espanhol Francisco Guerrero, exemplo da relação entre modelo e missaparódia. Lobo, formado em Évora e mais tarde mestre de capela da Sé Patriarcal de Lisboa, evidencia aqui sofisticação técnica e clareza contrapontística.
O programa inclui ainda motetes de outros autores ibéricos. Guerrero, figura maior da polifonia sevilhana, influenciou gerações de compositores. Francisco Garro, espanhol ligado a Portugal, estudou em várias catedrais e sucedeu António Carreira na Capela Real de Lisboa. Em 1609 publicou, em Lisboa, os primeiros volumes de polifonia impressos no país. O seu Asperges me, que abre o concerto, combina exuberância sonora com alternância entre compasso binário e ternário.
Estêvão Lopes Morago, natural de Vallecas mas formado em Évora, foi mestre de capela da Sé de Viseu, deixando obra de intensa expressividade. Estêvão de Brito, natural de Serpa e também formado em Évora, exerceu funções em Badajoz e Málaga, ilustrando a mobilidade artística na Península. Já Pedro de Cristo, figura central do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, equilibrou tradições locais e influências cortesãs, num estilo depurado e elegante. O programa encerra com obras a oito vozes em duplo coro, refletindo a prática policoral florescente também em Portugal. Com este trabalho de estudo e execução continuada, o Ensemble Cupertinos oferece não apenas fruição estética, mas também instrumentos de leitura histórica e musicológica, revelando as redes artísticas e institucionais que, entre Évora, Lisboa, Coimbra e toda a Península, moldaram um dos períodos mais brilhantes da história musical portuguesa
Pedro Teixeira
Pedro Teixeira é um dos mais destacados maestros de coro em Portugal. É desde 2021 Maestro Adjunto do Coro Casa da Música (Porto, Portugal), e foi Maestro Titular do Coro de la Comunidad de Madrid entre 2012 e 2018.
Nascido em Lisboa, obteve o grau de Mestre em Direção Coral na Escola Superior de Música de Lisboa, e é conhecido no meio coral pelas suas interpretações perspicazes e sensíveis.
Desde a sua criação em 2001, Pedro dirige o Officium Ensemble, grupo dedicado à interpretação de polifonia renascentista portuguesa. Tem dirigido repetidas vezes o Officium Ensemble em prestigiados festivais internacionais de música antiga tais como Oude Muziek Utrecht, ou Laus Polyphoniaæ em Antuérpia. Teixeira dedica-se também à música contemporânea, apresentando várias estreias mundiais por temporada, como maestro titular do Coro Ricercare desde 2001.
É desde 1997 diretor artístico das Jornadas Escola de Música da Sé de Évora. Para além de ser professor na Escola Superior de Música de Lisboa, Pedro lidera várias masterclasses e cursos de verão. É também regularmente convidado como júri em concursos internacionais de coros.
Desde 2018, Pedro dirigiu o Coro Gulbenkian como maestro convidado em várias ocasiões e palcos. Ao longo da sua carreira, Pedro preparou coros em colaboração com maestros tais como John Nelson, Enrico Onofri, Lorenzo Viotti, Riccardo Muti e Esa-Pekka Salonen.
Cupertinos
Nascido no seio da Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, em 2009, o grupo vocal Cupertinos dedicasse quase exclusivamente à música portuguesa dos séculos XVI e XVII, centrando-se em compositores como Duarte Lobo, Manuel Cardoso, Filipe de Magalhães e Pedro de Cristo. Com mais de vinte concertos anuais, já apresentaram cerca de trezentas obras, incluindo mais de cento e vinte inéditas, muitas transcritas a partir de fontes originais pelos próprios membros, sob a direção de Luís Toscano (até 2023) e do Prof. José Abreu. Desde janeiro de 2024, o grupo é dirigido por Pedro Teixeira.
Além de anfitriões do Festival de Polifonia, participaram em prestigiados eventos como o Ciclo de Requiem de Coimbra, Festival Internacional de Música Religiosa de Guimarães, Cistermúsica, Festival Terras Sem Sombra, Jornadas Polifónicas Internacionales Ciudad de Ávila, Bolzano Festival Bozen, Tage Alter Musik (Regensburg), Laus Polyphoniae (Antuérpia) e o Festival de Úbeda y Baeza. Estrearam-se no Reino Unido em 2020, na série Choral at Cadogan.
Reconhecidos como embaixadores da polifonia portuguesa, têm reforçado essa posição com álbuns dedicados a Manuel Cardoso (2019), Duarte Lobo (2020), Pedro de Cristo (2022) e Filipe de Magalhães (2023), editados pela Hyperion e aclamados por publicações como BBC Music Magazine, Gramophone, Diapason e Scherzo. Desde 2022 integram a REMA – Réseau Européen de Musique Ancienne, a maior rede europeia dedicada à Música Antiga.
O percurso do grupo inclui distinções como a entrada no Bestenliste do Deutscher Schallplattenkritik e a vitória nos Gramophone Classical Music Awards 2019 na categoria Early Music. Foram ainda finalistas dos PLAY – Prémios da Música Portuguesa em 2020 e 2023, e venceram em 2021 o prémio de Melhor Álbum de Música Clássica/Erudita. Em 2025, atuaram por duas vezes no Wigmore Hall, em Londres (19 de abril e 9 de junho), no âmbito do BBC Lunchtime Recital Programme, transmitido na BBC Radio 3 para mais de 500.000 ouvintes.