INÍCIO / Ludovice Ensemble

Ludovice Ensemble

5 NOV _16h30
Igreja do Convento de São Pedro de Alcântara

A música na Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma: obras de Giovanni Pietro Franchi

A partir da investigação da musicóloga Cristina Fernandes, apresentam-se em primeira audição moderna mundial obras de Franchi, transcritas e editadas por F. Miguel Jalôto para este programa.

*Conversa pré-concerto com os musicólogos Cristina Fernandes e F. Miguel Jalôto sobre a música na Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma nos séculos XVII e XVIII e o mecenato musical de D. Pedro II e D. João V.

Raquel Mendes & Teresa Duarte | Sopranos
Hugo Oliveira | Barítono
Guadalupe del Moral & César Nogueira | Violinos Barrocos
Diana Vinagre | Violoncelo Barroco
Fernando Miguel Jalôto | Órgão, Cravo e Direção

Desde o reinado de D. Pedro II que se iniciou em Roma um grande investimento na propaganda junto do papado, com vista à recuperação do prestígio nacional, perdido aquando da união dinástica com Espanha entre 1580-1640. À falta de uma embaixada com uma sede fixa, a igreja de Santo António dos Portugueses funcionava, nos séculos XVII e XVIII como a principal entidade nacional lusa na Cidade Eterna, e onde se celebravam as mais importantes festas nacionais, quer de carácter religioso quer de carácter político. Para estas solenidades, nos finais do século XVII contrataram-se músicos de gabarito no meio romano, para comporem e dirigirem, tais como G. P. Franchi, G. B. Borri, G. B. Bianchini, e F. Lanciani. Todos eles trabalhavam igualmente para as grandes famílias Rospigliosi, Pamphili, Ottoboni, Colonna, Odescalchi e Ruspoli, bem como para as outras grandes igrejas romanas. Nos anos seguintes, e já sob o reinado de D. João V, encontram-se a trabalhar, tanto para a igreja de Santo António como para os embaixadores portugueses do rei Fidelíssimo outros compositores ainda de maior renome, tais como P. P. Bencini, C. Cesarini, G. B. Constanzi, e, ainda os mais famosos A. Scarlatti, F. Gasparini e N. Porpora. Infelizmente, e devido sobretudo às perdas sofridas aquando dos saques resultantes das invasões francesas em Itália e às sucessivas crises diplomáticas entre Portugal e Roma (aquando das Guerras Liberais e da implantação da República), é hoje muito difícil reconstituir as práticas musicais e o repertório executado em Santo António. Contudo, o trabalho pioneiro da investigadora Cristina Fernandes tem permitido conhecer um pouco mais sobre essa dimensão do nosso património artístico e cultural. É neste contexto que o Ludovice Ensemble procura ressuscitar a personalidade de Giovanni Pietro Franchi, com o primeiro programa alguma vez inteiramente lhe dedicado e exclusivamente constituído por primeiras audições modernas mundiais das suas obras, especialmente transcritas e editadas por F. Miguel Jalôto. Franchi nasceu em Pistóia por volta de 1651. Depois de ser ordenado sacerdote integrou a capela musical da catedral da sua cidade natal. Activo em Roma a partir de 1688, trabalhou sobretudo para a família Rospigliosi e para a igreja dos Carmelitas de Santa Maria dei Monti. Em 1711 foi chamado ao santuário da Santa Casa do Loreto, sendo apresentado como «sujeito de muito clamor e fama em Roma pelo seu ofício». Quer antes quer depois desta data aparece frequentemente mencionado nos arquivos e documentos da Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma, como Director Musical ou Mestre de Capela extraordinário em várias das grandes solenidades da igreja portuguesa, nomeadamente as solenidades de S. António, S. Isabel de Portugal e N. Sra. da Conceição. As suas obras quer vocais, quer instrumentais, representam na sua elegância arcádica e subtileza expressiva, o que de melhor se compunha na «Capital do Mundo». A redescoberta da sua música permite, finalmente, redescobrir os sons que outrora ressoaram entre os esplendorosos mármores e bronzes da nossa igreja nacional no Campo Márcio.

A música na Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma:
obras de Giovanni Pietro Franchi (1651-1731) — Primeira Audição Moderna Mundial

Sonata V [em Dó menor]*
                Motetto «Spem in aulium» a due canti e basso, per ogni tempo**

Sonata III [em Dó Maior]*
                Motetto «Iunior sui» a canto e basso, per ogni tempo**

Sonata IV [em Lá menor]*
                Motetto «Surge Propera» a due canti [per Santa Elisabetta Regina di Portogallo]**

Sonata XI  [em Sol menor]*
                Motetto «Dignare me» a canto e basso, per la [Immacolata Concezione della] Beata Vergine**

Sonata IX [em Si bemol Maior]*
                Motetto «In virtute tua» a due canti [per Sant'Antonio]**

Sonata VII [em Fá Maior]*
                Motetto «Confitebuntur caeli» a due canti e basso, per uno o più santi**

Fontes:

*La Cetra Sonora, sonate a trè, doi Violini, e Violone, ò Arcileuto, col Basso per l'Organo consecrate all'Ill[ustrissi]mo et Ecc[ellentissi]mo Signore il Sig[nor] D. Domenico Spadafora [...] da D. Gio[vanni] Pietro Franchi da Pistoia, Maestro di Cappella del medesimo Signore. Opera Prima. Roma, 1685. Nova edição: Amesterdão, 1710.
**Motetti a due, e tre voci di D. Gio[vanni] Pietro Franchi da Pistoia, Capo del Concerto di Musica degl'Illustriss[imi] ed Eccellentiss[imi] Signori Duca, e Duchesa Rospigliose, dedicati All'Eminentiss[imo] e Reverendiss[imo] Principe Card[inale] D. Benedetto Panfilii. Opera Terza. Florença, 1690.

O Ludovice Ensemble é um grupo especializado na interpretação de Música Antiga, sediado em Lisboa, e criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, com o objetivo de divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas e usando instrumentos antigos. O nome do grupo homenageia o arquiteto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig (1673-1752) conhecido em Portugal como Ludovice. O grupo trabalha regularmente com os melhores intérpretes portugueses especializados, e também como prestigiados artistas estrangeiros. O Ludovice Ensemble apresentou-se em Portugal nos principais festivais nacionais e é uma presença regular nas duas principais salas de Lisboa: o CCB e a Fundação Calouste Gulbenkian. Apresentou-se no estrangeiro nos mais prestigiantes festivais de música antiga, na Bélgica (Bruges, Antuérpia); Países Baixos (Utrecht); França (La Chaise-Dieu, Bordéus); República Checa (Praga); Israel (Telavive, Jerusalém); Irlanda (Dublin); Estónia (Tallinn); e Espanha (San Sebastían, Santander, Sevilha, Aranjuez, El Escorial, Vitoria-Gasteiz, Lugo, Badajoz, Jaca, Daroca, Peñíscola, Sória, Logroño, Estella, Pirenéus catalães).  Gravou ao vivo para a RDP-Antena 2, a Rádio Nacional Checa e a Rádio Nacional da Estónia, bem como para o canal de televisão francês Mezzo. O seu primeiro CD, para a editora Franco-Belga Ramée/Outhere foi nomeado em 2013 para os prestigiados prémios ICMA na categoria de Barroco Vocal e selecionado pela revista francesa Diapason como uma das 10 melhores gravações de sempre de cantatas francesas. Do seu trabalho mais recente destacam-se Le Bourgeois Gentilhomme de Moliére/Lully, Vésperas de Nossa Senhora de 1610 de Monteverdi, Cain ovvero il primo omicidio de Scarlatti, Timão de Atenas de Shakespeare e Purcell, no CCB; Idylle sur la paix de Lully e Les Arts Florissants de Charpentier, bem como um original programa de música barroca judia-sefardita, na Fundação Gulbenkian; cantatas, árias e sinfonias de Bach, em Alcobaça e Guimarães; a Oferenda Musical de Bach, no Festival do Marvão; e o programa À l'Espagnole, em tournée em Espanha entre 2021 e 2023. Em 2020 lançou um álbum duplo do Ludovice Ensemble com sonatas inéditas de C. H. Graun para flauta e cravo obrigado, pela editora inglesa Veterum Musica, e em 2023 apresenta o seu terceiro álbum, desta vez dedicado à música de câmara da família Avondano, para o MPMP.

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