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Musurgia Ensemble

Iste Confessor Domini: Música Portuguesa e Franco-Flamenga do Século XVI
Centrado em obras dos manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, como a Missa Iste Confessor Domini e as obras instrumentais de Paiva, Carreira e Buus, este programa traz-nos a música devocional que ter-se-á escutado no espaço litúrgico à época da rainha D. Leonor.
Pierre de La Rue (c. 1452 – 1518)
Missa Iste confessor domini: Kyrie
Pierre de La Rue (c. 1452 – 1518)
Missa Iste confessor domini: Gloria
Heliodoro de Paiva (1502 – 1552)
[Verso do 4° Tom]
Pierre de La Rue (c. 1452 – 1518)
Missa Iste confessor domini: Credo
Jacques Buus (c. 1500 – 1565)
Ricercar sexto
Pierre de La Rue (c. 1452 – 1518)
Missa Iste confessor domini: Sanctus
[Tento do 2º Tom por Gsolreut]
Cantochão
Iste confessor domini
Pierre de La Rue (c. 1452 – 1518)
Missa Iste confessor domini: Agnus Dei
Possivelmente copiado em ’s-Hertogenbosch, pouco depois de 1530, o manuscrito P-Cug MM 2 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) reúne onze missas de destacados compositores franco-flamengos — Noel Bauldeweyn (c. 1480–1530), Pierre de La Rue (c. 1452–1518), Jean Mouton (c. 1459–1522), Pierre Moulu (1484?–c. 1550) e Adrian Willaert (c. 1490–1562) — a par de um Credo a sete vozes de autoria anónima. A elegância do volume e a criteriosa escolha do repertório apontam para um meio de prestígio ligado ao Mosteiro de Santa Cruz, revelando a ambição de participar nas redes cosmopolitas da música europeia.
No centro do manuscrito encontra-se a Missa Iste Confessor Domini, cuja história de transmissão permanece ambígua. Dois manuscritos copiados décadas antes e conservados em Munique e Viena apresentam a mesma música como Missa supra O quam glorifica luce, atribuída a Antoine de Févin (c. 1470–1511/12) (Anthonius de fevin pie memorie. †), ao passo que a versão contida no manuscrito da BGUC a atribui a Pierre de La Rue sob o título Iste confessor Domini. Os títulos remetem para enquadramentos litúrgicos diferentes e o único modelo identificado com segurança é a melodia do Hino Iste confessor Domini sacratus, que seria cantado nas Primeiras Vésperas nos dias de celebração dos Santos Confessores.
A versão contida no manuscrito de Coimbra preserva com particular clareza a organização interna da obra, tornando-se uma referência para a leitura atual, em particular para a resolução do Canon enigmático apresentado na secção do Sanctus. Esta versão não contém o Agnus Dei II; este sobrevive apenas no manuscrito da Biblioteca Nacional Austríaca (como Duo) e é incluído no programa. O canto do Kyrie provém de um livro de cantochão copiado em Santa Cruz (P-Cug MM 37, meados do séc. XVI).
O concerto integra ainda peças instrumentais dos manuscritos musicais 48 e 242, contidos na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra: [Verso do 4.º Tom] de Heliodoro de Paiva (1502–1552), [Tento do 2º Tom por Gsolreut] atribuído a António Carreira (m. 1599), e o Ricercar sexto de Jacques Buus (c. 1500–1565).
João Francisco Távora | Direção Musical
Após concluir os seus estudos na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, no Porto, e na Hochschule für Musik und Theater “Felix Mendelssohn Bartholdy”, em Leipzig, João Francisco Távora inicia uma ambiciosa carreira como solista, ensemble e diretor musical.
O seu primeiro álbum a solo, com música de Georg Philipp Telemann para flauta de bisel, é publicado em 2025 pela editora Coviello Classics. Esta gravação de estreia de Telemann precede um segundo álbum a solo com transcrições de obras de J. S. Bach, a ser lançado em 2026. Fez digressões com diversos agrupamentos musicais pela Bélgica, Brasil, Alemanha, Finlândia, Portugal (incluindo os Açores e a Madeira) e Espanha.
Desde a temporada 2023/24, tem trabalhado regularmente com a Gewandhausorchester (Leipzig). Como membro do agrupamento Arte Minima, gravou discos com música de Francisco de Santa Maria e Vicente Lusitano, publicados pela Pan Classics.
João é membro fundador e co-diretor artístico do Musurgia Ensemble, dedicado à interpretação e divulgação da música dos séculos XVI a XVIII. Os primeiros projetos discográficos do Musurgia incluem “Ad vesperas – música para as Vésperas de Corpus Christi”, em colaboração com o ensemble vocal Quarto Tom, e o projeto “Missa Iste confessor domini”.
Musurgia Ensemble
O Musurgia Ensemble, fundado em 2020 por João Francisco Távora e Helder Sousa, é um grupo, com formação variável, dedicado à interpretação de música instrumental dos séculos XVI, XVII e XVIII. Dentro dos seus desígnios, destaca-se a recuperação de património musical português, desenvolvendo projetos que entrelaçam as vias de interpretação artística e investigação musicológica. Neste âmbito inscreve-se o projeto “Solfa tangida, Solfa cantada”, desenvolvido entre 2023 e 2024, em parceria com o projeto Mundos e Fundos (Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra) e o grupo vocal Quarto Tom Ensemble.
Para além da interpretação de música instrumental, o Musurgia Ensemble tem desenvolvido, e encontra-se a desenvolver, vários projetos no âmbito da música encenada, destacando-se aqui a coprodução da ópera Daphnis et Eglé, de J.-Ph. Rameau (Ponte de Lima, 2023), sendo o seu próximo projeto neste registo a produção do Auto do Fidalgo Aprendiz (1665), de Francisco Manuel de Melo, em parceria com a companhia NAVIO.
O Musurgia Ensemble conta com a participação em vários festivais, entre eles o Festival “Além Mar” (2024), o FÓS – Festival de Órgão de Santarém (2024) e o CásterAntiqua - Festival de Música Antiga de Ovar (2025).
Em 2025, o Musurgia Ensemble realizou os projetos discográficos “Missa Iste confessor Domini”, com música portuguesa e franco flamenga para consort de flautas de bisel, e o “Ad Vesperas”, com música de fontes musicais portuguesas para o ofício de Vésperas do Corpus Christi.